EDITORIAL
Jornal Brasileiro de Ginecologia (JBG), nascido em 1936

(JBG), born in 1936

Mauro Romero Leal Passos 1, Renato Augusto Moreira de Sá 1

2018
Vol. 110 - Nº.01
Pag.02 – 05

Para muitas pessoas (médicos e outros profissionais de saúde, pesquisadores, escritores de artigos científicos etc.), publicações científicas importantes e de alto impacto são aquelas publicadas no idioma inglês, com corpo editorial estrangeiro, que o Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) classifica como A. De maneira quase unânime, esses periódicos científicos estão fora do Brasil.

Ficamos assim, subjugados às empresas responsáveis por essas revistas científicas (acreditem que são verdadeiras empresas comerciais que defendem os seus produtos e os seus negócios, com robusto conflito de interesses).

Nada contra, se entendermos que produção e divulgação de conhecimentos de alto nível e bom desdobramento para a humanidade podem ser efetuadas em qualquer idioma, em qualquer país e em múltiplas plataformas.

Nesse sentido, fico orgulhoso dos seres humanos que mantêm (e até recuperam) obras raras, como os gestores da Bibliotheca Alexandrina (antiga Biblioteca de Alexandria), no Egito, da Biblioteca de Bethesda, nos Estados Unidos, e da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil.

Perdão por não citar dezenas de outras bibliotecas espalhadas pelo mundo (Bolonha, Londres, Paris, Verona - esta contém um original do livro de Girolamo Fracastoro: Syphilis Sive Morbus Gallicus, de 1530).

Entretanto, na contramão daqueles que pensam que só o mundo digital merece total apoio e reconhecimento, registramos a inauguração recente da Biblioteca Binhai, na cidade de Tianjin, na China, com mais de 1,2 milhão de livros impressos, em uma área de mais de 34 mil metros quadrados, que é de tirar o fôlego. E um bom motivo para reflexão sobre a importância dos acervos bibliográficos.

E por que eu citei a Biblioteca da Maternidade-Escola da UFRJ?

Porque nesse órgão público federal, com parcos recursos materiais e financeiros, mantém-se disponível toda a coleção do Jornal Brasileiro de Ginecologia (JBG), periódico científico de que agora estamos resgatando a sua publicação.

Esse periódico nasceu Annaes Brasileiros de Gynecologia, com publicação mensal, em janeiro de 1936, tendo como diretor fundador o professor Arnaldo de Moraes e como secretário de redação o doutor Francisco Victor Rodrigues (Figuras 1 e 2).

Capa do primeiro fascículo de Annaes Brasileiros de Gynecologia, de janeiro de 1936.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Sumário do primeiro fascículo de Annaes Brasileiros de Gynecologia, de janeiro de 1936.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

No editorial do primeiro número, fica claro que o referido periódico científico nasceu como órgão oficial “do ensino da clinica gynecologica da Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro e da Faculdade Fluminense de Medicina, cujas cathedras são ambas ocupadas pelo Director Fundador”. Ainda fica patente que “vae se ocupar não só da gynecologia, como também da obstetrícia” e “terá acolhida em suas folhas tudo o que se relacione com qualquer problema mesmo extragenital da pathologia feminina, quer no campo endócrino-metabolico, quer no campo psycologico, psychiatrico, biológico, genético e eugênico” (Figura 3).

Editorial relata as representações do periódico científico.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

No primeiro trabalho original publicado, o professor Arnaldo de Moraes brindou-nos com um excelente texto: “Sobre o tratamento cirurgico do prolapso genital” (Figura 4).

Primeiro texto científico publicado no periódico revela todo o lado de dedicação ao ensino do professor Arnaldo de Moraes.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

No segundo ano de vida dos Annaes Brasileiros de Gynecologia, mais precisamente em janeiro de 1937, o periódico foi classificado como Orgão Official da Sociedade Brasileira de Gynecologia (Figura 5).

No primeiro número de 1937, o periódico passou a ser órgão oficial da Sociedade Brasileira de Ginecologia.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em janeiro de 1940, provavelmente atendendo às normas ortográficas, o periódico passou a se chamar Anais Brasileiros de Ginecologia, ainda com os mesmos dirigentes centrais (Figura 6).

Em 1940, a publicação passou a se chamar Anais Brasileiros de Ginecologia.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Na evolução dessa publicação científica, encontramos a publicação de janeiro de 1970 (ano XXXV, v. 69, n. 1), agora com a denominação de Jornal Brasileiro de Ginecologia, como “Orgão Oficial do Centro Brasileiro de Dinamica Populacional e Reprodução Humana (DINABRAS)”. Ainda, consta que está sob auspícios da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, da Sociedade Brasileira de Fertilidade, da Sociedade Brasileira de Citologia, da Sociedade Brasileira de Colposcopia, da Biblioteca Edina de Moraes, da Sociedade Brasileira de Patologia Mamária, do Instituto Fróes da Fonseca e do Instituto Atheneu Arnaldo de Moraes (Figuras 7, 8, 9 e 10).

Em janeiro de 1970 a capa já mostrava o novo nome: Jornal Brasileiro de Ginecologia.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Primeiro número com o nome de JBG mostrando as novas afiliações.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Sumário do primeiro número com o nome de JBG.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Expediente do primeiro fascículo com o nome de JBG.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Porém, em 1999 (v. 109, n. 1/4, jan./abr.), o JBG teve a sua publicação interrompida.

Nesse fascículo, encontramos impresso que o Jornal Brasileiro de Ginecologia era órgão oficial do Centro de Estudos da Maternidade-Escola da UFRJ e estava sob os auspícios da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro e da Sociedade Brasileira de Citopatologia. Nesse momento, constava que a Cidade - Editora Científica Ltda, de Petrópolis, detinha os direitos sobre essa publicação (Figuras 11 e 12).

Capa do último número do JBG antes do recomeço, em 2017.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Sumário do último número do JBG antes do recomeço, em 2017.

Fonte: acervo da Biblioteca da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Anos passaram-se até que o nobre colega André Luiz Arnaud Fonseca adquiriu da Cidade - Editora Científica Ltda os direitos sobre o JBG.

Em conversas na Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de Rio de Janeiro (SGORJ), com a nossa presidência e vice-presidência, conseguimos que o querido colega cedesse o JBG para que agora fosse publicado sob nossa editoria científica e administrativa, sendo órgão oficial da SGORJ.

Daqui para a frente, queremos resgatar a importância desse veículo de disseminação do conhecimento científico na área da ginecologia e da obstetrícia e tudo o que se correlaciona a essa especialidade médica. Começamos com a digitalização do número de nascimento - anno I, v. I, n. 1, jan. 1936, que já se encontra disponível gratuitamente no portal da SGORJ. Aos poucos serão digitalizados os outros números, até termos toda a coleção disponível. Aproveitamos para confirmar que o JBG será um periódico de acesso aberto na internet, distribuído para os sócios da SGORJ e, inicialmente, com dois números por ano.

A memória dos grandes mestres de ginecologia e obstetrícia, verdadeiros fundadores do ensino de ginecologia e obstetrícia no Brasil e das primeiras sociedades médicas de ambas as especialidades, merece destaque especial e deve ficar no entendimento de todos os que atuam na área. Tivemos médicos, professores, escritores, pessoas que atuavam e pensavam à frente de seu tempo como, Arnaldo de Moraes, Francisco Victor Rodrigues, Mario Pardal, Fernando Magalhães, Jorge de Rezende e tantos outros colegas que devemos reverenciar. Além disso, e sobretudo, ter gratidão com os humanos que nos antecederam e fizeram a base de nosso ensino, pesquisa e extensão. E mais, ter gratidão com os colegas que ombro a ombro se despem das vaidades, dos interesses mesquinhos e compartilham os seus conhecimentos, tempo ao convívio em sociedade em prol de toda a comunidade, seja acadêmica, seja geral.

A vida é um eterno aprender, transformar, agir. É um eterno começar.

Hoje, começamos de novo.

Views: 391