ARTIGO ORIGINAL
Grupos de Robson na prevalência da cesariana

Robson groups and prevalence of cesarean section

Alfredo de Almeida Cunha 1, Christiane Gonçalves Escobar Toscano 2, Amanda Rocha Saraiva 1, Henrique Erthal 1, Carlos Henrique Bosch Wiedemer 1, Isabela de Oliveira Cunha 1, Mariana Sales Assad 1, Josiane Oliveira Gomes 1, Carolina Nunes Campos 1

2019
Vol. 129 - Nº.01
Pag.05 – 10

RESUMO

Introdução:

A análise da incidência de cesariana classicamente tem sido feita baseada nas indicações. Entretanto, como estas variam de acordo com a população assistida, com os protocolos e com a equipe médica, sua comparação é difícil. Há 18 anos foi proposta uma classificação baseada no perfil das pacientes, tentando responder à pergunta: “Quem é operada?”.

Objetivo:

Avaliar a associação dessa classificação com as taxas de cesariana.

Métodos:

População de pacientes assistidas em maternidade de referência para gravidez de alto risco. O desenho foi de estudo transversal, comparando-se os grupos da classificação de Robson com as taxas de cesariana. Foi construída base de dados com o programa Epi Info, versão 7, igualmente utilizado para a análise estatística. Os dados foram extraídos dos prontuários médicos.

Resultados:

Foram observadas 138 pacientes, cuja prevalência global de cesariana foi de 70/138 (50,72%). A participação dos grupos de Robson na prevalência de cesariana foi assim observada: grupo 1, 32,65%; grupo 2, 55,55%; grupo 3, 45,45%; grupo 4, 33,33%; grupo 5, 76,67%; grupo 6, 100%; grupo 7, 100%; grupo 8, 22,22%; grupo 9, 100%; e grupo 10, 62,51%. Entretanto, a análise final mostrou que a contribuição relativa de cada grupo para a taxa de cesariana foi, respectivamente, 22,9; 7,1; 14,3; 1,4; 32,9; 5,7; 4,3; 2,9; 1,4; e 7,1%.

Conclusão:

A classificação de Robson mostrou-se útil para avaliar a participação na prevalência de cesariana de acordo com o perfil das pacientes, permitindo uma abordagem de possível intervenção para redução da taxa de cesariana de acordo com o grupo.

ABSTRACT

Introduction:

The analysis of the incidence of caesarean classically has been made based on indications. However, as these vary according to the assisted population, to protocols and to the medical staff, their comparison is difficult. Eighteen years ago, a new classification was proposed based on the patients’ profile, aiming at answering the question: who is being operated?

Objective:

To evaluate the association of this classification with the caesarean rates.

Methods:

Population of assisted patients in motherhood for high-risk pregnancy. The design was a cross-sectional study, comparing the Robson’s classification groups with the caesarean section rates. Database has been built with the Epi Info, version 7, also used for statistical analysis. Data were extracted from the medical records.

Results:

138 patients were observed and the global prevalence of Cesarean section was 70/138 (50.72%). The participation of Robson groups in the prevalence of Cesarean section was thus observed: Group 1, 32.65%; Group 2, 55.55; Group 3, 45.45%; Group 4, 33.33%; Group 5, 76.67%; Group 6, 100%; Group 7, 100%; Group 8, 22.22%; Group 9, 100%; Group 10, 62.51%. However, the final analysis showed that the relative contribution by each group to the Caesarean rate was 22.9%, respectively, 7.1, 14.3, 1.4, 32.9, 5.7, 4.3, 2.9, 1.4 and 7.1%.

Conclusion:

Robson’s classification proved itself to be useful to evaluate the participation in the prevalence of Cesarean section in accordance with the patients’ profile, allowing for a possible intervention approach to reduce the rate of caesarean section according to the group.

Keywords

delivery, obstetric
classification
natural childbirth
cesarean section
labour, induced
obstetric labor, premature

Palavras-chave

parto obstétrico
classificação
parto normal
cesárea
trabalho de parto induzido
trabalho de parto prematuro

INTRODUÇÃO

As taxas de cesariana (CS) têm aumentado em todo o mundo nas últimas décadas, com muitos países ultrapassando a taxa de 15% recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 1995, a taxa de CS no Canadá foi de 17,6%, subindo para 26,9% em 2010. O rápido aumento recebeu atenção porque está associado a riscos imediatos e tardios para a mãe e o recém-nascido. Historicamente, as indicações de CS têm sido os fatores clínicos, tais como complicações maternas e obstétricas, antecedentes de CS, distocias, sofrimento fetal, apresentação pélvica e apresentações anômalas. Alterações recentes nas características maternas podem ajudar a explicar o aumento da taxa, incluindo idade materna mais avançada e maiores taxas de hipertensão, diabetes, obesidade e gestação múltipla. Entretanto, muitos outros fatores podem ter contribuído para o aumento da taxa de CS, como a inclusão de técnicas cirúrgicas, a percepção da paciente e do médico da segurança do procedimento, a demanda da paciente, padrões da prática clínica e a pressão sobre os médicos por medicina defensiva1.

Auditoria das taxas de CS tem sido feita em muitos países, entretanto não existe padrão internacional aceito para essa avaliação, incluindo as características maternas e neonatais em grupos comparáveis. Muitos métodos têm usado as indicações obstétricas para essa comparação, mas enquanto fornecem informações porque a CS foi feita, falta informação no ciclo da auditoria para que possa haver uma modificação prospectiva. Em 2001, foi proposta uma classificação em dez grupos, considerando as características das pacientes que contemplam essa comparação2,3.

A medição da taxa de CS em geral é insuficiente para compreender as tendências em práticas de CS ao longo do tempo, pois os obstetras decidem realizar esse procedimento em uma variedade de situações obstétricas. Propor medidas significativas para estabilizar ou diminuir a taxa de CS requer estudar o perfil dessas práticas e suas tendências ao longo do tempo, com classificações adequadas e informativas. Muitas classificações foram propostas, e a de Robson é fácil de usar e pode ser reproduzida4,5,6,7.

MÉTODOS

População atendida em maternidade de referência para gravidez de alto risco no período de 11 de abril a 20 de junho de 2018.

Desenho

Estudo transversal que classificou as pacientes segundo os dez grupos de Robson e observou a participação delas na prevalência da CS e a contribuição para a taxa de CS, segundo Robson.

Os grupos de Robson são descritos por Betrán em 20013 e caracterizados como:

  • Nulípara, feto único, cefálico, ≥37 semanas, trabalho de parto (TP) espontâneo;

  • Nulípara, feto único, cefálico, ≥37 semanas, TP induzido ou CS antes do TP;

  • Multípara sem CS prévia, feto único, cefálico, ≥37 semanas, TP espontâneo;

  • Multípara sem CS prévia, feto único, cefálico, ≥37 semanas, parto induzido ou CS antes do TP;

  • Multípara com CS prévia, feto único, cefálico, ≥37 semanas;

  • Todas nulíparas com apresentação pélvica;

  • Todas multíparas com apresentação pélvica (inclusive com CS prévia);

  • Todas as gestações múltiplas (inclusive com CS prévia);

  • Todas com apresentação córmica ou oblíqua (inclusive com CS prévia);

  • Todas com feto único, cefálico, <37 semanas (inclusive com CS prévia).

    Foi construída uma base de dados baseada no prontuário médico em que constam as variáveis utilizadas na classificação de Robson e o tipo de parto (CS ou parto vaginal). Para isso, usou-se o programa Epi Info, também utilizado para a análise estatística.

    O presente estudo é parte do projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2 de agosto de 2017 (CAAE 71271617.0.0000.5275)

    RESULTADOS

    Foram observadas 138 pacientes, cuja prevalência global de CS foi de 70/138 (50,72%). A média de idade foi de 20,91 anos (desvio padrão - DP=6,20), 10 pacientes com idade abaixo de 20 anos e 16, acima de 35 anos. As características utilizadas na classificação dos grupos de Robson incluem a paridade, que variou entre 0 (n=71, 51,51%), 1 (n=47, 34,06%), 2 (n=14, 10,14%) e 3 (n=6, 4,35%) partos. O antecedente de CS foi de 0 (n=100, 72,46%), 1 (n=35, 25,36%), 2 (n=1, 0,72%) e 3 (n=2, 1,45%). A presença de gestação gemelar foi de cinco casos (3,62%), a apresentação anômala foi pélvica (n=7, 5,07%) e córmica (n=1, 0,72%). O trabalho de parto foi induzido em 14 (10,14%) mulheres e a idade gestacional variou de 24 a 41 semanas, com 8 prematuros (idade gestacional <37 semanas) (Tabela 1).

    Distribuição das características na classificação de Robson (n=138).

    Característica n %
    Antecedente obstétrico
    Paridade
    Nulípara 71 51,45
    Multípara 67 48,55
    Antecedente de cesariana
    Sim 38 27,54
    Não 100 72,46
    Gestação gemelar
    Sim 5 3,62
    Não 133 96,38
    Apresentação
    Cefálica 130 94,20
    Pélvica 7 5,07
    Córmica 1 0,72
    Indução do trabalho de parto
    Sim 14 10,14
    Não 124 89,86
    Prematuridade
    Sim 8 5,79
    Não 130 94,20

    A participação dos grupos de Robson na prevalência de CS foi assim observada: grupo 1, 32,65%; grupo 2, 55,55%; grupo 3, 45,45%; grupo 4, 33,33%; grupo 5, 76,67%; grupo 6, 100%; grupo 7, 100%; grupo 8, 22,22%; grupo 9, 100%; e grupo 10, 62,51% (Tabela 2). Entretanto, a análise final mostrou que a contribuição relativa de cada grupo para a taxa de CS foi, respectivamente, 22,9; 7,1; 14,3; 1,4; 32,9; 5,7; 4,3; 2,9; 1,4; e 7,1% (Tabela 2).

    Contribuição do grupo para a taxa de cesariana.

    Grupo Número de cesarianas Total de partos Tamanho do grupo (%)* % cesarianas no grupo** Contribuição absoluta do grupo para taxa de cesariana (%)*** Contribuição relativa do grupo para taxa cesariana (%)****
    1 16 49 35,5 32,6 11,6 22,9
    2 5 9 6,5 55,5 3,6 7,1
    3 10 22 15,9 45,4 7,2 14,3
    4 1 3 2,1 33,3 0,7 1,4
    5 23 30 21,7 76,6 16,7 32,9
    6 4 4 2,8 100 2,9 5,7
    7 3 3 2,1 100 2,2 4,3
    8 2 9 6,5 22,2 1,5 2,9
    9 1 1 0,7 100 0,7 1,4
    10 5 8 5,7 62,5 3,6 7,1
    Total 70 138 100 50,7 50,7 100

    *Número de partos no grupo/total de partos (49/138=35,5%); **número de cesarianas no grupo/partos no grupo (16/49=32,6%); ***número de cesarianas no grupo/total de partos (16/138=11,6%); ****número de cesarianas no grupo/total de cesarianas (16/70=22,9%).

    DISCUSSÃO

    A classificação de Robson permitiu caracterizar cada grupo e a sua respectiva participação na prevalência de CS. Os grupos 6, 7 e 9 referem-se à apresentação anômala e a alta frequência (100%) de CS está justificada pelos atuais protocolos8. A transformação da apresentação pélvica em cefálica pela versão apresenta problemas, e a maioria das mulheres não recebe essa forma de tratamento9. A indução do trabalho de parto é uma opção na apresentação pélvica em casos selecionados. Embora seja uma prática limitada pelos riscos do parto em apresentação pélvica10,11,12,13, bons resultados foram relatados na literatura14.

    O grupo 10 refere-se ao parto pré-termo, que pode ter sido indicado pelo comprometimento do bem-estar materno (­pré-eclampsia) ou fetal (sofrimento crônico); pode ter sido espontâneo, passível de alta associação com a CS, embora diferenças de prática possam contribuir para a variação nas taxas de CS (baixas taxas em partos prematuros não foram associadas com os piores resultados15,16), podendo-se mesmo considerar a possibilidade de indução do parto pré-termo17. Entretanto, deve-se avaliar os fatores de risco. A apresentação pélvica é comum em prematuros e está associada com o uso generalizado de CS, com significativas disparidades regionais, o que poderia refletir a falta de consenso e recomendações sobre o modo preferencial de parto. Outros fatores associados ao parto cesáreo são as facilidades da unidade de saúde, a corioamnionite, a admissão após o início do trabalho de parto e a idade gestacional18.

    Evidências sobre o modo ideal de parto para o nascimento prematuro são carentes e pode haver variação considerável na prática. Estudo foi feito para avaliar se a variação nas taxas de CS no parto prematuro do hospital (classificação de Robson grupo 10) e os resultados são explicados por características clínicas, assistência ou hospital. O estudo foi de coorte de base populacional em Nova Gales do Sul, entre 2007 e 2011. Os nascimentos foram categorizados de acordo com o grau de prematuridade e capacidade do serviço: 26-31, 32-33 e 34-36 semanas de gestação. Taxas de CS no parto prematuro foram investigadas usando modelos de regressão logística multinível, progressivamente, ajuste para fatores de caso, a assistência e o hospital. Foi avaliada a associação de cada hospital com a taxa de CS e a morbidade materna e neonatal grave. Na gestação de 26-31 semanas, a taxa de CS foi de 55,2% (sete hospitais, gama 43,4-58,4%); na de 32-33 semanas, 50,9% (12 hospitais, 43,4-58,1%); e na de 34-36 semanas, 36,4% (51 hospitais, 17,4-48,3%). Nas categorias 26-31 e 32-33 semanas de gestação, 81 e 59% da variação entre hospitais foram explicadas com nenhum hospital significativamente diferente da média do estado após o ajuste. Na gestação de 34-36 semanas, apesar de 59% da variação ter sido explicada, parte substancial persistiu inexplicável. Taxas de CS do hospital não foram associadas a taxas de morbidade materna grave em qualquer idade gestacional. Na gestação de 26-31 semanas, médias e altas taxas de CS estavam associadas com maiores taxas de morbidade neonatal grave, mas não havia nenhuma evidência de gestações com ≥32 semanas com essa associação. Concluiu-se que as diferenças entre a prática contribuíram para a variação nas taxas de CS de cada hospital. Baixas taxas de CS no parto prematuro não foram associadas com os piores resultados15.

    No presente estudo, o grupo 5 (multípara com antecedente de CS) apresentou participação de 21,7% no grupo, contribuição relativa para a taxa de CS de 32,9%. A prevalência de 76,67% de CS no grupo é aceitável pelo aumento observado por diversos autores1,19,20, sendo o segundo grupo em tamanho no grupo (21,7%) e com a maior contribuição para a taxa de CS. Este grupo poderia ser menor se a prevalência de antecedente de CS fosse menor. No inquérito da OMS, esse grupo corresponde a 11,4% do grupo, mas com contribuição de 26,7% para a taxa de CS3. Em outro estudo, o grupo 5 foi o de maior contribuição relativa para a taxa de CS20.

    Os demais grupos (1, 2, 3, 4 e 8) apresentaram prevalência de CS passível de intervenção para sua redução.

    O grupo 8 (todas as gestações múltiplas) teve participação no presente estudo de 6,5% no grupo e participação relativa do grupo para a taxa de CS de 2,9%, valores superiores aos do estudo de Betrán et al. em inquérito com 97.095 partos em 8 países da América Latina, feito pela OMS, sobre saúde maternal e perinatal, com classificação das CS segundo os grupos de Robson. Os autores observaram que o grupo 8 participou com 1% do total de CS e 2,0% de contribuição para a taxa de CS3.

    No presente estudo, a segunda maior contribuição relativa para a taxa de CS foi o grupo 1 (nulíparas com gravidez única, feto em apresentação cefálica, a termo e que iniciou o trabalho de parto espontaneamente), sendo o maior no tamanho do grupo (35,5%) e com alta prevalência de CS (32,6%), com contribuição de 22,9% para a taxa. Esse grupo deve sua contribuição às distocias, o que poderia ser reduzido com melhor assistência ao trabalho de parto21, já que o serviço em que foi feito o estudo é um hospital fechado, que pode controlar melhor as condutas médicas22. O grupo 1, no estudo de Betrán et al., tem participação de 27,7% no grupo e contribuição relativa de 18,2% para a taxa3. Já no trabalho de Amatya et al., esse grupo foi o de maior participação no total das CS, seguido pelo grupo 320.

    O grupo 2 teve menor participação no grupo (6,5%) e menor contribuição relativa para a taxa de CS (7,1%), pois é derivado do grupo 1, mas com indicação de indução ou já com CS realizada antes do trabalho de parto, o que sugere passado de intercorrência clínica, merecendo uma análise mais detalhada. No estudo de Betrán et al., a participação no grupo, embora pequena (8,7%), teve grande contribuição relativa (15,2%) para a taxa3.

    Com os grupos 3 e 4 ocorre algo parecido com os grupos 1 e 2. O grupo 3, de multíparas, representa 15,9% do grupo, com contribuição relativa de 14,3% para a taxa de CS; e o grupo 4, também de multíparas, acrescenta a característica de parto induzido ou de CS realizada antes do trabalho de parto, reduzindo a participação no grupo para 2,1% e apresentando contribuição de 1,4% para a taxa de CS. Esse valores são inferiores aos encontrados no estudo de Betrán et al.: a participação do grupo 3, no total, foi de 32,3%, mas com significativa contribuição relativa (9,0%) para a taxa; e o grupo 4, embora com participação menor no grupo (7,0%), manteve contribuição aproximada para a taxa (8,3%)3.

    Como a taxa de CS continua a aumentar nos países ocidentais, é importante analisar as razões para essa tendência e desvendar os motivos subjacentes para executar CS. Delbaere et al. realizaram pesquisa com objetivo de avaliar a incidência e a tendência de CS em um registro de nascimento de base populacional para identificar grupos de pacientes com risco crescente para CS. Os autores consultaram o registro de dados desde o nascimento no Centro Flamengo de Estudos de Epidemiologia Perinatal (SPE), na Bélgica, para essa comparação histórica de controle. CS a partir do ano 2000 (n=10.540) foram comparadas com as do ano 2008 (n=14.016). Por meio da classificação de Robson, nascimentos por CS foram ordenados em dez grupos de acordo com a mãe e as características do parto. Durante um período de oito anos, a ascensão da CS é mais proeminente em mulheres com antecedentes de CS e em mulheres nulíparas, com um feto a termo cefálico em trabalho de parto espontâneo. A proporção de induções do trabalho diminuiu a favor da CS eletiva, enquanto as induções em curso mais frequentemente terminaram em CS não eletiva. Concluiu-se que a fim de voltar à atual tendência de CS, devemos focar primíparas de baixo risco. Evitar partos abdominais desnecessários nesse grupo também terá efeito em longo prazo: futuramente, o número de CS de repetição será reduzido. Para efeitos de autoavaliação, discussão de ponto a ponto da necessidade da CS, bem como o registro exato da indicação principal para CS são recomendados21, além do modelo de assistência, conforme estudo brasileiro23, e da redução de CS em nulíparas7, o que foi possível em Hong Kong24.

    Em 2016, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) firmou pacto com as operadoras de planos de saúde em prol do Projeto Parto Adequado. Com a publicação de uma cartilha com orientações sobre o pacto, objetivou-se estimular o parto normal e diminuir a incidência de CS desnecessárias25. Em 2016, foi realizado um seminário em São Paulo com a participação da Prefeitura de São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Cochrane Brazil, com a publicação de material didático sobre a classificação de Robson, útil para quem desejar aderir ao pacto26.

    As limitações do presente estudo compreenderam pequeno tamanho amostral e curto período de observação. Entretanto, mostrou-se útil para a implantação da classificação de Robson, que passou a fazer parte do serviço.

    CONCLUSÃO

    A classificação de Robson mostrou-se útil para avaliar a participação na prevalência de CS de acordo com o perfil das pacientes, permitindo uma abordagem de possível intervenção para redução da taxa de CS de acordo com o grupo.

  • supported-by

    Fonte de financiamento: nenhuma.

    Conflict of interests

    Conflito de interesses: nada a declarar.

    Affiliation

    1 Programa de Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia, Hospital Central do Exército - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.
    2 Serviço de Obstetrícia, Hospital Central do Exército - Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

    REFERENCES

    1. Kelly S, Sprague A, Fell DB, Murphy P, Aelicks N, Guo Y, et al. Examining caesarean section rates in Canada using the Robson classification system. J Obstet Gynaecol Can. 2013;35(3):206-14.
    2. Robson MS. Classification of Caesarean Sections. Fetal Matern Rev. 2001;12(1):23-9.
    3. Betrán AP, Gulmezoglu AM, Robson M, Merialdi M, Souza JP, Wojdyla D, et al. WHO global survey on maternal and perinatal health in Latin America: classifying caesarean sections. Reprod Health. 2009;6:18.
    4. Le Ray C, Blondel B, Prunet C, Khireddine I, Deneux-Tharaux C, Goffinet F. Stabilising the caesarean rate: which target population? BJOG. 2015;122(5):690-9.
    5. Vogel JP, Betrán AP, Gülmezoglu AM. Use of the Robson classification has improved understanding of caesarean section rates in France. BJOG. 2015;122(5):700.
    6. Vogel JP, Betrán AP, Vindevoghel N, Souza JP, Torloni MR, Zhang J, et al. Use of the Robson classification to assess caesarean section trends in 21 countries: a secondary analysis of two WHO multicountry surveys. Lancet Glob Health. 2015;3(5):e260-70.
    7. Nakamura-Pereira M, do Carmo Leal M, Esteves-Pereira AP, Domingues RM, Torres JA, Dias MA, et al. Use of Robson classification to assess cesarean section rate in Brazil: the role of source of payment for childbirth. Reprod Health. 2016;13(Supl. 3):128.
    8. Bjellmo S, Andersen GL, Martinussen MP, Romundstad PR, Hjelle S, Moster D, et al. Is vaginal breech delivery associated with higher risk for perinatal death and cerebral palsy compared with vaginal cephalic birth? Registry-based cohort study in Norway. BMJ Open. 2017;7(4):e014979.
    9. Bin YS, Roberts CL, Nicholl MC, Ford JB. Uptake of external cephalic version for term breech presentation: an Australian population study, 2002-2012. BMC Pregnancy Childbirth. 2017;17(1):244.
    10. Burgos J, Arana I, Garitano I, Rodríguez L, Cobos P, Osuna C, et al. Induction of labor in breech presentation at term: a retrospective cohort study. J Perinat Med. 2017;45(3):299-303.
    11. Fonseca A, Silva R, Rato I, Neves AR, Peixoto C, Ferraz Z, et al. Breech Presentation: Vaginal Versus Cesarean Delivery, Which Intervention Leads to the Best Outcomes? Acta Med Port. 2017;30(6):479-84.
    12. Macharey G, Gissler M, Rahkonen L, Ulander VM, Väisänen-Tommiska M, Nuutila M, et al. Breech presentation at term and associated obstetric risks factors-a nationwide population based cohort study. Arch Gynecol Obstet. 2017;295(4):833-8.
    13. Parissenti TK, Hebisch G, Sell W, Staedele PE, Viereck V, Fehr MK. Risk factors for emergency caesarean section in planned vaginal breech delivery. Arch Gynecol Obstet. 2017;295(1):51-8.
    14. Louwen F, Daviss BA, Johnson KC, Reitter A. Does breech delivery in an upright position instead of on the back improve outcomes and avoid cesareans? Int J Gynaecol Obstet. 2017;136(2):151-61.
    15. Bannister-Tyrrell M, Patterson JA, Ford JB, Morris JM, Nicholl MC, Roberts CL. Variation in hospital caesarean section rates for preterm births. Aust N Z J Obstet Gynaecol. 2015;55(4):350-6.
    16. Danieli-Gruber S, Maayan-Metzger A, Schushan-Eisen I, Strauss T, Leibovitch L. Outcome of preterm infants born to overweight and obese mothersdagger. J Matern Fetal Neonatal Med. 2017;30(4):402-5.
    17. Kuper SG, Sievert RA, Steele R, Biggio JR, Tita AT, Harper LM. Maternal and Neonatal Outcomes in Indicated Preterm Births Based on the Intended Mode of Delivery. Obstet Gynecol. 2017;130(5):1143-51.
    18. Lorthe E, Quere M, Sentilhes L, Delorme P, Kayem G. Incidence and risk factors of caesarean section in preterm breech births: A population-based cohort study. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2017;212:37-43.
    19. Ciriello E, Locatelli A, Incerti M, Ghidini A, Andreani M, Plevani C, et al. Comparative analysis of cesarean delivery rates over a 10-year period in a single Institution using 10-class classification. J Matern Fetal Neonatal Med. 2012;25(12):2717-20.
    20. Amatya A, Paudel R, Poudyal A, Wagle RR, Singh M, Thapa S. Examining stratified cesarean section rates using Robson classification system at Tribhuvan University Teaching Hospital. J Nepal Health Res Counc. 2013;11(25):255-8.
    21. Delbaere I, Cammu H, Martens E, Tency I, Martens G, Temmerman M. Limiting the caesarean section rate in low risk pregnancies is key to lowering the trend of increased abdominal deliveries: an observational study. BMC Pregnancy Childbirth. 2012;12:3.
    22. Paleari L, Gibbons L, Chacón S, Ramil V, Belizán JM. [Rates of caesarean sections tn two types of private hospitals: restriced-access and open-access]. Ginecol Obstet Mex. 2012;80(4):263-9.
    23. Torres JA, Domingues RMSM, Sandall J, Hartz Z, Gama SGN, Theme Filha MM, et al. Cesariana e resultados neonatais em hospitais privados no Brasil: estudo comparativo de dois diferentes modelos de atenção perinatal. Cad Saúde Pública. 2014;30(Supl. 1):S220-31.
    24. Chung WH, Kong CW, To WW. Secular trends in caesarean section rates over 20 years in a regional obstetric unit in Hong Kong. Hong Kong Med J. 2017;23(4):340-8.
    25. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Nova organização do cuidado ao parto e nascimento para melhores resultados de saúde Rio de Janeiro: Agência Nacional de Saúde Suplementar; 2016.
    26. Torloni MR. Classificação de Robson. In: Workshop Parto Adequado, Hospital Albert Einstein. São Paulo: Prefeitura de São Paulo; 2016.

    Address for correspondence:


    Autor correspondente: aacunha@uol.com.br

    History

    Received: 17/01/2019

    Accepted: 22/04/2019

    Views: 387