Nos últimos tempos pesquisadores e clínicos têm se preocupado com Mycoplasma, especialmente da espécie M. genitalium, e sua morbidade. O M. genitalium é uma das bactérias da classe Mollicutes, que compreende ainda Ureaplasma urelayticum, Ureaplasma parvum e Mycoplasma hominis. Tem sido observada prevalência variável de M. genitalium entre os estudos de 0,95 a 9,1%1,2. A referida bactéria é considerada de transmissão sexual, uma vez que tem sido identificada de forma concordante entre parceiros3. Foi recentemente demonstrado por metanálise que a identificação genital desse agente está associada a um risco aumentado cerca de duas vezes para cervicite, doença inflamatória pélvica, trabalho de parto pré-termo, abortamento espontâneo e infertilidade4. Apesar disso, ainda há controvérsias sobre quando deve ser pesquisado entre as mulheres3.
Um crescente número de testes de amplificação de ácido nucleico tem surgido nos últimos tempos para identificação de M. genitalium. Pensa-se que o uso desses testes altamente sensíveis poderia identificar a infecção e, com o tratamento, reduzir as sequelas5, no entanto a questão é saber se em termos de saúde pública há custo × benefício.
Em estudo de revisão sistemática e metanálise, os autores consideraram que a falta de pesquisas controladas que demonstrem o benefício clínico do rastreio e o aumento de resistência a antibióticos, principalmente macrolídeos, é razão para restringir o uso do teste de detecção de M. genitalium1. Apesar de uma compreensível preocupação sobre a indicação de rastrear o agente, a questão não está fechada, e a sua identificação entre mulheres sintomáticas ou assintomáticas não está recomendada. Tem-se a necessidade de estudos amplos, multicêntricos e bem desenhados para que se entendam os aspectos-chave da história natural da bactéria e os determinantes da efetividade de um rastreio5.
Fortaleza, 11 de fevereiro de 2019.